segunda-feira, 13 de junho de 2011

Testemunha de ex-muçulmana

A iraniana Mina Ahadi mora há catorze anos na Alemanha, mas pouquíssimos amigos sabem exatamente onde.

Desde que ela criou o Conselho de Ex-Muçulmanos, entidade de apoio a pessoas que abdicaram da fé islâmica, passou a receber ameaças de morte que a obrigam a viver quase reclusa.

Renunciar ao Islã é considerado entre muçulmanos uma ofensa grave, punível com pena de morte em países como o Irã, que Mina foi obrigada a deixar depois que os aiatolás tomaram o poder, em 1979.

Então uma líder estudantil, ela foi perseguida pela Guarda Revolucionária, teve o marido executado e sua cabeça posta a prêmio.

Conseguiu asilo político na Áustria e depois se mudou para a Alemanha, onde hoje chefia os Comitês contra a Execução e o Apedrejamento.

Execuções públicas são freqüentes em Teerã?

Não, fazia muito tempo que isso não ocorria. Trata-se, claramente, de uma nova tática do regime para infundir o terror na população.

As prisões estão lotadas. Há, inclusive, crianças e adolescentes aguardando fazer 18 anos para ser executados.

Praticamente todos os dias eu recebo chamadas de condenados me pedindo ajuda. Ontem à noite, minha filha pediu que eu desligasse o celular: “Mãe, vamos ver um filme sossegadas. Vamos ficar pelo menos uma noite sem ouvir más notícias”. Eu desliguei o aparelho, e hoje de manhã havia sete mensagens, uma delas com voz de criança. Ela falava baixo, provavelmente porque não podia falar alto: “Por favor, por favor, atenda ao telefone, eu preciso de ajuda”.

Que crime essas crianças e adolescentes cometeram?

Alguns são acusados de assassinato, outros de envolvimento com drogas. Mas os julgamentos muitas vezes se baseiam no testemunho de uma única pessoa, ou num comportamento que o estado considera criminoso, como o sexo entre dois homens ou duas mulheres. Estou em contato com a família de dois adolescentes presos porque um deles gravou no seu celular cenas de sexo que teve com o outro e as imagens caíram nas mãos da polícia. Foram condenados à morte por apedrejamento. Como acontecem muitas vezes, os familiares não querem ajuda.

A senhora pode descrever uma execução por apedrejamento?

Ela acontece em geral ao amanhecer. A pessoa condenada tem as mãos amarradas nas costas e é envolta em uma mortalha branca. Fica totalmente embrulhado nesse pano, o rosto também. Então, é colocada de pé num buraco fundo e coberta de terra até o peito, no caso das mulheres, e até a cintura, no caso dos homens. Dependendo da condenação, é o juiz quem atira a primeira pedra. Mas pode ser também uma das testemunhas. Se a vítima é uma mulher sentenciada por adultério, por exemplo, tanto o seu marido quanto a família dele podem lançar as primeiras pedras. A lei diz que elas têm de ser grande o suficiente para machucar a vítima, mas não para matá-la no primeiro ou segundo golpe.

A senhora se considera uma ex-muçulmana?

Sim, desde os 15 anos, quando deixei de fazer minhas preces. Nas últimas décadas, em muitos lugares, o islamismo tornou-se uma ferramenta de manipulação política, e não uma religião restrita à esfera privada. Há muito tempo esse Islã deixou de fazer sentido. Hoje, para mim, ele significa apenas barbárie e crueldade.

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